Será que ainda temos organizações nos dias de hoje que valorizam os seus “yes-men” (e yes-women)?
Ainda temos as “ovelhas negras”, que são assim apelidadas por serem os colaboradores que procuram, no melhor interesse da empresa, expor as suas fragilidades e mostrar soluções? E quando essas mesmas soluções vão contra a cegueira de um empresário ou gestor? Este prefere admirar-se ao espelho com os seus inexistentes tecidos e em que vários elogiam os seus “brocados” e “pérolas” das suas decisões e opiniões? Isto será algo impossível para uma “ovelha negra” aguentar, mas quando estas se silenciarem ou afastarem, cuidado para os que ficam, gravitando na sua concordância e em adulação das lideranças, seja esta pela simples fuga ao conflito, seja para seu ganho pessoal, não importa, o certo é que irão causar prejuízo por serem simplesmente “mais um”, alimentando uma visão unilateral e muitas vezes distorcida da realidade. O “não vale a pena”, “isto é mesmo assim, para quê contrariar?”. O conformismo tem o seu preço! E a sentença poderá ser dura para a organização. Nem sempre é fácil ouvir as críticas, e com isso não me refiro às vãs e inúteis que temos de “peneirar” diariamente, mas sim, àquelas consistentes e significativas. É melhor sentirmo-nos bem connosco próprios mesmo que em falsidade ou escolher “o comprimido vermelho” e sair da “Matrix”? Esta coragem de ouvir o que não queremos e ver o que não desejamos ver transcende-nos como profissionais e vai ao âmago do nosso ser. Quantos de nós por vezes somos aqueles ou temos pessoas à nossa volta, nos mais variados contextos, que não querem percecionar que não a sua visão, o seu entendimento dos factos, que não a sua realidade, como algo incontestável e único, desconhecendo que o “mapa não é o território”* e que é mais fácil uma existência que não nos confronte com as nossas fragilidades e lacunas (ou das nossas organizações) e que nos deixe seguros no mapa que dominamos, do que no território que desconhecemos? Não pretendo dizer com isto que alguém ou algum de nós será o iluminado com a resposta para a salvação do que quer que seja. Mas às vezes as mais simples perguntas, o colocar em causa e o fazer refletir alguém, que não o deseja e que costuma encontrar desculpas em cada esquina deveria ser o suficiente para provocar uma derrocada (boa ou má, evitável mas muitas vezes necessária). Nas competências mais valorizadas para 2020 segundo o já conhecido estudo do World Economic Forum encontram-se nos primeiros lugares, o pensamento crítico e a criatividade. Cada vez mais assistimos à disseminação de conceitos que incentivam o pensamento criativo na cultura das organizações e de metodologias de geração de inovação como o “Design Thinking”, da integração da diversidade e do pensamento divergente nas equipas e agora do tema que virou moda: a “inclusão” nas nossas organizações. Infelizmente isto não será para todas as organizações e para todas as chefias e lideranças, pois onde fica isto tudo quando ainda existem chefias, gestores, acima de tudo, pessoas que o mais que desejam é que lhes digam que a sua forma de fazer é que está certa, que sempre assim fizeram e funcionou. Que a sua estrutura de pensamento é a mais acertada. Enquanto isso, e por mim, eu só digo e irei sempre dizer… “O Rei vai nú!”.*Alfred Korzybski, 1879-1950
Gestora de Recursos Humanos