É possível ser-se feliz no trabalho?
A felicidade no trabalho tem assumido especial importância nos últimos tempos.
Fala-se da felicidade como se fosse algo que se pode adquirir. E de facto muitos empresários têm desenvolvido um conjunto de ações que têm como objetivo aumentar a felicidade dos trabalhadores.
Na realidade a felicidade é mais uma questão intrínseca, relacionada com o perfil pessoal do indivíduo, do que uma questão intimamente relacionada com os benefícios disponibilizados pelas empresas.
A felicidade começa por ser algo muito subjetivo e que é entendido distintamente pelas diferentes pessoas. Está relacionada com os valores da pessoa, com a sua história de vida, o seu percurso, as suas vivências, experiências e com um conjunto de atitudes diárias que os indivíduos apresentam e que são mais ou menos promotoras deste sentimento. Eu diria que também está relacionada com as características de personalidade dos indivíduos. Se não vejamos: todos conhecemos pessoas que por mais que tenham coisas boas na vida nunca estão contentes, pessoas que por mais que se faça algo por elas, têm sempre críticas negativas a fazer, pessoas que conseguem dramatizar todas as situações em que estão inseridas, etc.
Dificilmente estas pessoas serão felizes. Por outro lado, temos a questão das “culpas”: há pessoas para quem a culpa de tudo está sempre concentrada nos “outros”. Ora, a conquista da felicidade começa dentro do indivíduo. É uma busca constante. Se o individuo colocar a responsabilidade da sua felicidade em fatores externos, como estes não dependem de si, só por sorte as coisas vão acontecer indo ao encontro da sua expectativa. Logo, dificilmente vai estar feliz.
Então, podemos afirmar com segurança que a felicidade profissional é particular e remete para a singularidade de cada pessoa e, que a felicidade não existe no trabalho mas no indivíduo.
No contexto de trabalho há pequenas coisas que podem ajudar como fazer o que se gosta, trabalhar com pessoas otimistas e com quem se consegue desenvolver relacionamentos de qualidade, ter desafios, ter um sentimento de utilidade, ser reconhecido, ser respeitado, ter perspetiva de carreira, segurança, mas na realidade estes não são os fatores fundamentais de que depende a felicidade. A felicidade vai depender essencialmente do equilíbrio que o indivíduo tem nas diferentes dimensões da sua vida. Não é possível um colaborador dizer que está muito feliz no trabalho se a sua vida familiar estiver um caos porque uns aspetos interferem nos outros. Assim, as pessoas têm que identificar quais as dimensões fundamentais da sua vida e perceber qual o nível de satisfação que pretendem para cada área. Isto na prática significa que as pessoas têm que priorizar os diferentes aspetos da sua vida de forma a proporcionarem qualidade à sua vida. Isto passa por perceber as interferências da vida familiar, da saúde financeira, da qualidade dos afetos, etc, no trabalho. O desequilíbrio de uma área vai afetar a outra. Não quero com isto dizer que as pessoas só serão felizes quando tudo estiver perfeito. Nada disso. Pode haver problemas, dificuldades, e ainda, assim, equilíbrio. É uma questão de trabalhar o otimismo e a positividade e perceber que tudo gera impacto. Depois, é gestão emocional.
“Ser feliz” não existe. O que existe é “estar feliz”. E isso é uma escolha: olhar para tudo o que nos acontece e escolher o lado bom. Sim, existe sempre algo de bom em tudo, nem que seja uma aprendizagem que se retira com a experiência vivida. Mas só o tempo ajuda a perceber isso.
“Estar feliz” no trabalho não foge a esta realidade: por muito que a empresa proporcione experiências prazerosas a felicidade tem que estar dentro do indivíduo.
“Descobrir prazer no trabalho tem a ver com maturidade e essa é uma conquista que afeta a vida inteira de uma pessoa” escreve Alexandre Teixeira, autor do livro “Felicidade S/A”.
E de que depende a maturidade se não do autoconhecimento?
Eu acredito que só se vive uma vez por isso escolho ser feliz agora porque isso depende de mim.