Um dia, os meus caminhos terão flores!
Hoje, o dia amanheceu como todos os outros. Olhando o céu cinzento e a chuva que cai amiúde pressinto uma estranha empatia com o meu sentimento.
Nasceu um novo dia e isso é bom. Mas sinto-o triste, mesmo sabendo que é de mim pois nos últimos tempos desenvolvi uma estranha relação com o frio.
Desconfio que a minha memória me pregou uma partida. Pensar o passado não leva para o futuro. Mas matreira, recorda-me que, precisamente há 5 anos, por volta das onze da manhã, tive alta do hospital. Tal como hoje era domingo e fiquei feliz por ir almoçar a casa.
A única preocupação era em como iria trabalhar, afinal “um braço partido não é nada” pensava, ainda surpreendida por ter alta em menos de 24 horas depois da cirurgia.
Estava um Domingo chuvoso como hoje e passei a tarde à lareira. Debrucei-me sobre a apresentação que iria fazer na semana seguinte na universidade. Ditei para o gravador do telefone as alterações que pretendiam e não senti falta da mão direita com que costumava escrever.
A ligação secreta da memória à aprendizagem faz-me ter consciência que, cinco anos volvidos a minha vida não mais voltou ao que era.
Como é possível uma simples queda poder mudar um rumo de vida! O tempo mostrou-me o que um simples cotovelo partido pode fazer para alterar a história de alguém. Fez-me ter consciência de áreas ínfimas do corpo que nem sabia existirem. A dor tornou-se uma fiel companheira.
Adquiri asas para voar nas emoções e ganhei garras para me suportar nos afetos. Viajo nas boas memórias quando as noites são longas e dolorosas.
Aprendi a esperar. Aprendi a ter paciência. Criei outras formas de olhar o mundo.
Percebi que tenho de me reinventar. Que não me posso focar no que não consigo, mas naquilo que vou alcançando e, sobretudo, nas conquistas diárias.
Ganhei o direito de estar triste. Desenvolvi uma capacidade infinita de lutar com a dor que às vezes também é na alma.
Desdobro-me em novas formas de ser útil esticando um rol de competências para domínios nunca antes experimentados.
Descobri a criatividade de uma criança no corpo quebrado de adulto. Fiz das fraquezas forças para conceber e produzir.
Encontrei sorrisos nas lágrimas e alegria nas tristezas.
E desenvolvi uma fé inabalável em mim e em quem acredita em mim e me apoia todos os dias.
Sou grata pela ajuda que preciso e deixo sementes pelos caminhos que percorro.
Um dia, estarão cobertos de flores.