*Artigo publicado na revista KÉRAMICA – APICER
A Mudança Que Se Impõe
O covid19 veio agitar o mundo e impôs uma paragem na economia e na sociedade em geral. Tudo está em ebulição sem que se saiba ainda muito bem para onde estamos a caminhar.
Há algo de que ninguém tem dúvidas: novos tempos se aproximam… e serão tempos de grande mudança!
O ser humano é, naturalmente, avesso à mudança. As mudanças implicam consumo extra de energia e o nosso cérebro, órgão responsável pelo controlo do nosso corpo, funciona numa lógica de poupança de energia.
Ao longo da vida somos, permanentemente, desafiados a mudar. Normalmente desenvolvemos respostas ajustadas e corre bem, mas a primeira reação é, quase sempre, de resistência à mudança.
Mas, na realidade o que significa mudar? Mudar pressupõe a passagem de um determinado estado para um novo e diferente, que pode implicar transformação, rutura ou perturbação.
Uma coisa é certa: Mudar é normal!
Nós somos um produto de permanentes e sucessivas mudanças que determinam a nossa evolução como ser humano e, também, o nosso sucesso.
As mudanças permitem-nos alterar hábitos, rotinas e comportamentos.
A mudança é um processo natural às pessoas e, naturalmente, às Organizações que compostas por pessoas. Mudam-se procedimentos, estruturas organizativas e políticas. A economia global está em permanente mudança. O mundo muda!
O mundo muda porque o homem sonha. Sonha com o melhor para si e para os seus, com aquilo que o realiza e faz feliz. E é isto que promove a evolução. Mudar pressupõe aprender e promove o crescimento e a inovação. Mas, para que as mudanças sejam bem-sucedidas, é imprescindível alterar o mindset. Por exemplo, é fundamental alterar a crença de que mudar é doloroso e difícil. É fulcral desenvolver comportamentos facilitadores de adaptação.
A resistência à mudança ou a aversão ao risco acontece com alguma frequência porque nos obriga a romper com algo pré-estabelecido ou a sair fora do nosso lugar de conforto. Estando todos nós, constantemente, a enfrentar algum tipo de mudança, em maior ou menor grau e com maior ou menor resistência, como lidar de forma bem-sucedida com esse processo?
Todos podemos ser agentes da mudança porque os padrões mentais são passíveis de alterar. Podemo-nos reprogramar.
A mudança será tão mais bem-sucedida quanto mais pessoas conseguirmos envolver no processo. Não podemos ficar à espera de que os outros resolvam a crise. Temos de nos consciencializar que também podemos ser agentes ativos na resolução da crise.
O processo deve iniciar com um conjunto de perguntas poderosas que colocamos a nós próprios:
- O que mudou?
- O que é que está diferente?
- O que quero mudar?
- Como me sinto?
- Quais são os meus desafios?
- Como vou superá-los?
- O que preciso de fazer?
Existem um conjunto de forças impulsionadoras da mudança como reconhecer e valorizar as realizações, confiar e delegar responsabilidades adequadamente, definir metas claramente, envolver as pessoas, saber dar e receber feedback de forma construtiva, ser recetivo a sugestões, conhecer o potencial e as limitações das pessoas, ser tolerante e paciente com as limitações dos outros, procurar desenvolver continuamente os indivíduos, estabelecer relacionamentos abertos e francos, usar linguagem adaptada ao nível da compreensão dos outros e às ocasiões, preocupar-se sinceramente com as pessoas.
As pessoas não vão reagir da mesma forma e vão estar em diferentes zonas psicológicas. Na Zona Morta estão os que não se mexem. Resignaram-se a como as coisas são, ou eram! Procuram confirmação no passado. A Zona de Conforto é onde se sentem bem. Onde está o que conhecemos, é um lugar confortável. A Zona de Desafio é onde já ou ainda não estamos bem, implica esforço e é novidade. A Zona de Pânico é aquela em que se instala o medo, é um lugar de absoluto desconforto. Consome muita energia, alegria e criatividade. A Zona Elástica é a zona boa para trabalhar e viver. Nela as pessoas são o motor do seu desenvolvimento e evolução contínua. Fazem as coisas sempre de modo diferente e novo, mas de forma sincronizada.
O grande desafio é trazer o maior número de pessoas para a Zona Elástica.
Como já dizia Charles Darwin “As espécies que sobrevivem não são as espécies mais fortes, nem as mais inteligentes… e sim aquelas que se adaptam melhor às mudanças.”
Para além de trabalhar a predisposição para mudar é, também, necessário desenvolver a perceção: aprender a ter várias perspetivas de um acontecimento e aprender a descobrir a sua melhor faceta. Só assim conseguiremos estar atentos às oportunidades. Sim, as crises também criam oportunidades!
Nas minhas aulas conto muitas vezes a história dos vendedores de sapatos. É uma narrativa simples que descreve um episodio da vida de um empresário, proprietário de uma fábrica de sapatos, que envia um contentor de sapatos e dois dos seu comercias à India. Ao fim de uns dias, um dos comerciais envia um email ao patrão a dizer para tentar resgatar o contentor porque as pessoas na India andam descalças e não vão comprar sapatos. Ainda o empresário não está refeito da notícia, quando recebe um email do segundo comercial a dizer para ele enviar mais um contentor de sapatos pois as pessoas andam descalças e quando perceberem o conforto dos sapatos terão um pico exponencial nas vendas. É este o ponto em que estamos: haverá oportunidades nesta crise? Claro que sim!
Por último, e não menos importante, é necessário prepararmo-nos.
É altura de identificar sonhos e objetivos; de encontrar um prepósito; de descobrir aquilo que verdadeiramente nos apaixona; de reexaminar os valores e os princípios mais significativos; de desenvolver uma grande visão.
Mais do que nunca é altura de construir a nossa marca ou valorizá-la.
Há algumas características que serão imprescindíveis. Ter níveis de autoeficácia generalizáveis, o que pressupõe querer trabalhar muito; ter esperança; ser otimista; ser resiliente; aprender a concentrarmo-nos nas soluções e não nos problemas; olhar os pontos fracos como oportunidades de melhoria; capitalizar os pontos fortes; ter níveis de autoconfiança elevados; ser automotivado; ter coragem e determinação; desenvolver a capacidade para assumir riscos; ser persistente: cair sete vezes e levantar oito; aprender a aprender.
A pandemia instalou o caos nas empresas, na vida das pessoas e na sociedade. Mas o caos não vai durar sempre. Temos a responsabilidade, e a obrigação moral, de nos estarmos a preparar para a mudança e, quando a quarentena acabar, todos juntos reconstruirmos as nossas empresas, as nossas vidas e contribuirmos para uma sociedade melhor.
Paula Rocha
CEO KEEP Corporate